O nome por trás da CLA
ENTREVISTA COM CYNTHIA ARAÚJO
A cada dia 8 de março, palestras, celebrações e editoriais são tomados por um clima festivo para comemorar em 24 horas mais de 100 anos do ativismo mundial das mulheres em prol de mais respeito e reconhecimento de sua influência na política, na economia e na sociedade.
Mulher, mãe e avó, a empresária carioca Cynthia Araújo não é só o que se chama de boa profissional, no melhor sentido da expressão, mas o nome por trás do pioneirismo da CLA Programação Visual para a consolidação do design de sinalização ambiental no Brasil. Todos os prêmios, menções honrosas e aprimoramento de muitos designers foram decorrentes da força do caráter impoluto de Cynthia.
Hoje, ela nos conta um pouco sobre sua vida.
”Saúde, respeito, aceitação em todos os sentidos, empatia e amor. Parece que vivemos num mundo egoísta e cheio de discriminação.”
Conte um pouco sobre sua infância?
Sempre fui uma mulherzinha muito arrumada, vestido de bordado inglês, bolsa e sapato de verniz. Minha mãe era quem costurava os meus vestidos para eu passear com meu pai. Infância boa. Nos saraus à noite, meu pai tocava diferentes instrumentos e eu cantava. Desde pequenina desenhava nos papéis do meu pai que era arquiteto!
O que a levou a ser designer?
Sempre gostei de desenhar desde os três anos. Não escrevia, mas desenhava. Meu pai sempre me inspirou. Arquiteto, músico, pintor, seu apelido era Portinari. Só tinha uma questão, ele queria que eu fosse arquiteta, mas como sempre fui determinada, me matriculei aos 16 anos, na Escola Nacional de Belas Artes (EBA). Ele nem sabia! De lá para o Desenho industrial foi um pulo.
Alguém influenciou você no começo de sua carreira?
Sim. Um certo dia, passando pelo corredor da EBA, que já localizava-se na Ilha do Fundão, vi um anúncio de estágio no escritório da já conhecida, Ana Luísa Escorel. Como boa aluna e determinada me candidatei. Lá fiquei eu, boa observadora, prestava atenção em tudo. Embora fôssemos muito diferentes, nossas conversas eram sempre inspiradoras. Dali para frente foi um caminho sem volta!
Quais foram suas dificuldades como designer?
No início de qualquer carreira a gente encontra dificuldades. Fui da segunda turma de Desenho Industrial da UFRJ. Na época, ninguém sabia o que era exatamente e tinha sempre que responder às clássicas perguntas, ”o que você faz?” “você é artista plástica”? Mas, por já trabalhar no A3, um escritório só formado por mulheres, isso me dava mais segurança.
Se você não fosse designer, que outra profissão você escolheria para manifestar sua criatividade?
Eu já nasci para ser desenhadora. Sabia o que queria ser. Mas como uma segunda atividade gostaria de cantar. Sempre gostei de cantar. Cantava no coral da escola e nos saraus, com meu pai e meu irmão, querido Belieni que tocava com o Roberto Carlos.
Você é feminista? O que é que você reivindica para a brasileira?
Sou apaixonada pela escritora Isabel Allende, e digo como ela que nasci feminista, determinada e resiliente. Desde os 11 anos eu desenhava minhas roupas, costurava, ganhava meu próprio dinheiro costurando para minhas amigas. Fazia tecelagem, batik. Sempre fui independente. Fiz meu vestido de noiva e não pedia dinheiro aos meus pais. Poderia ter sido estilista! Não pensava em ter filhos, mas sempre fui uma galinha com seus pintinhos. Eduquei meus filhos para serem independentes e cidadãos! Lembro quando rasguei meu sutiã!
Hoje e sempre quero igualdade, salários dignos, opiniões firmes, trabalho para todos, direito sobre seu corpo, ser politizada e independência financeira.
O que é que mais importa na vida?
Para mim nesse momento da minha vida é a independência, o trabalho, a família e o amor entre nós.
O que é o amor?
O amor é um sentimento de empatia entre os seres humanos, respeito e admiração pelo outro. Eu amo meu marido há 44 anos; quer dizer, há 50 anos, quando nos conhecemos.
O que você mais deseja atualmente?
Saúde, respeito, aceitação em todos os sentidos, empatia e amor. Parece que vivemos num mundo egoísta e cheio de discriminação.
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